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O quanto eu quero conhecer quem eu amo

Já amei pessoas que quiseram me conhecer por inteiro. Sempre tive um pé atrás de me relevar de todo, por uma certa ansiedade de ser descoberto diferente de quem eu tentava ser.

Eu sou uma versão minha diferente do que eu narro, menor ou maior do que eu espero ser. Uso dessa licença poética em cada apresentação, tentando congelar a impressão que causo nos outros e aproximar ela de mim.

Afinal, eu gosto mesmo tanto assim de pintura? E nos dias que a minha paixão não estiver tão acesa? Eu menti que era fã dessa banda, se hoje ela me irrita?

De tanta dúvida, eu acabo confiando também no que as pessoas mostram querer ser. É uma simpatia que eu sinto por quem partilha desse processo de não saber direito o que se é.

E nos primeiros sinais de que não somos o que dizemos ser, se estabelece um afeto entre dois imperfeitos. Resta ao tempo provar se foram mentiras ou boas intenções.

Num filme, um personagem quer aprender coreano. O motivo: é a língua que o seu amor fala, quando fala dormindo. Ele quer conhecer essa parte dela que não passa por nenhum filtro.

Ficar junto de alguém é aceitar esse conflito entre se sentir confortável pra ser quem se é de verdade, e o medo de que isso traga a tona algo de imperdoável.

Talvez amar seja dar a chance pra que a pessoa escolha quando contar os seus segredos ou admitir os seus defeitos.

#português #writing