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Ignorantes, suados, lindos

Tu ia gostar desse filme, Bully ("Juventude Violenta" em pt-br), por que ele tem todos os personagens que a gente precisa pra lembrar de como era bom poder tocar o foda-se naquele intervalinho entre o final do ensino médio e o início da faculdade (ou, pelo menos, o inicio da faculdade que tu resolveu ir até o final).

Tem três gurias: uma é tesuda, só quer transar. Outra é pra ser feia e apaixonada. Tem uma que é aquela alternativa que se meteu com droga um pouco pesada demais.

A primeira tu descobre que tem filho, a segunda na verdade é tri gata e a terceira te deixa triste porque ela seria perfeita, mas fuma pedra.

Tem quatro caras: um é o Robin da própria vida (o Bully é o Batman), o outro só tá ali porque é primo de alguém, tem um que é o sex toy da tesuda e um outro que fez todos acreditarem que ele era bandido.

Nesse popurri de todas as variedades de quem pega provão no terceiro ano, chama a atenção a forma que eles levam a vida.

A falta de reflexão na hora de tomar uma atitude é algo de se repreender, claro, mas nada te torna mais autêntico do que escolher a pior alternativa em cada situação que te apresentam.

Por que estar preparado, planejar-se pra lidar com algo tira aquele prazer que é encarar o mundo considerando igualmente todas as possibilidades. Se tu sai de casa e tu é muito decente, muito equilibrado, quantas opções tu não descarta de antemão, quantas alternativas tu nem cogita em cada esquina que tu passa?

Quanto mais vastas forem as possibilidades, mais prazeroso é descobrir o que a pessoa decidiu fazer. E se no meio delas tá "ser cúmplice de assassinato", com certeza vai ser mais interessante. Independente do que tu tinha pensado em fazer quando saiu de casa.

A ignorância age como um tempero, uma forma de realçar nosso paladar pelo cotidiano. Se tu te bota numa situação ruim por completa inaptidão, o teu suor sai com incentivo especial: se tu já ultrapassou a barreira do ridículo (se só de estar no estado atual tu já tá passando vergonha) cada decisão subsequente tem o peso multiplicado por todas as outras.

Essa habilidade de ir somando erros é compartilhada por todos no filme. Pelos pais que não enxergam os filhos pelo que são, mas por o que esperam deles. Pelos amigos que não veem nos outros qualquer coisa além de um escape pras suas emoções mais cruas e podres. Pelos personagens que não conseguem atribuir a mínima seriedade a mais terrível das situações.

E é isso que faz todos serem absolutamente lindos e inajustáveis. Cada gota de suor derramada é uma experiência nova, é produto da interpretação errada que eles fazem da realidade pavorosa que eles constroem com cada ação horrenda e egoísta que tomam.

E quando tu ver esse filme tu vai notar que dá até uma vontade de ter ido e cometido todos os erros, menores que eles fossem, que tu evitou ao longo da vida. Vai dar vontade de ter tido uma surdez seletiva pra qualquer conselho carregado do mínimo de bom senso. Por que a vida ausente de sabedoria, nesse filme pelo menos, é extremamente sexy e brutal. E as consequências, ainda bem, não couberam nos 112 minutos de duração.