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Fascínio periódico rotacional

O meu interesse pelas coisas vem em ondas, com fases bem definidas.

Por muito tempo eu não entendi essa dinâmica, e muitas das minhas cicatrizes são produto de uma tendência a me entregar completamente a hobbies, dietas e rotinas.

A primeira coisa que eu gostei mesmo foi de beber, depois de fumar, depois de andar de skate.

Surpreendentemente, são hobbies que possuem uma alta sinergia, e, na mais honesta busca por uma estética hard podrera core, eu me dediquei integralmente a eles.

O que eu não sabia, na verdade, era que cada um dos interesses estava numa fase específica.

"Gráfico mostrando a intensidade em função do tempo para alguns interesses: álcool, cigarro, skate. Cada interesse é uma onda senoidal deslocada meia fase, começando pelo álcool"

No início, eu apenas bebia. Depois, comecei a fumar. Essa eu chamo de "Primeira Era", onde eu tinha apenas estes dois interesses.

Em algum momento, comecei a andar de skate.

O meu início no skate coincidiu com um momento de alto interesse no álcool, e baixo interesse no tabagismo.

Isso foi propício pros meus primeiros rolês: alcoolizado, corajoso, fumando pouco (em boa forma), com uma energia altíssima, aprendendo várias manobras e conhecendo diversos spots.

"O mesmo gráfico de antes, com um detalhe em roxo numa parte onde a intensidade do álcool e skate estão altas, enquanto a do cigarro está baixa"

Esse momento coincide com a mudança para a "Segunda Era", onde eu tenho as primeiras experiências com o malabarismo dos meus três hobbies. Em alguns momentos gosto mais de uns, e as pessoas com as quais me relaciono me puxam mais para outros.

Após um início intenso e alcoolizado, consigo criar um rotina onde eu vou de skate pro trabalho, me envolvo com a cultura local, faço exercícios com frequência, etc.

Mas com o passar do tempo, a combinação de interesses se torna perigosa novamente:

"O mesmo gráfico, indicando um novo momento onde o interesse em álcool e skate está no alto. Mais à esquerda, o gráfico mostra que o interesse em skate não se recuperou mais, indo ao zero"

O resultado é que eu entrei em rampas, lombadas, ruas atoladas de carro, e outros lugares de dificuldade muito acima da minha capacidade, ralando joelhos, quebrando ossos e rompendo ligamentos no processo.

Na busca pela raiz do problema, o skate acabou pagando o pato: era o mais fácil de largar, o que exigia mais força de vontade pra manter, e, infelizmente, o único que tinha algum saldo positivo nessa mistura.

Esse momento marca a entrada na "Terceira Era", onde o skate vai sendo lentamente abandonado, conforme cai sobre ele a culpa e o amargor das dores e sequelas.


Hoje em dia, quando um novo interesse se torna o centro da minha atenção, eu tento colocá-lo ao lado dos que já existem, mesmo os antigos e que estão um pouco abandonados.

Será que ele vai se alimentar de algo bom que eu venho cultivando?

Será que ele vai alimentar algum vício empurrado pra baixo do tapete?

Essa é a natureza do fascínio periódico rotacional.

#life #português #writing