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A dificuldade de manter contato

Existe uma intimidade que se desenvolve quando duas pessoas conversam de perto. Essa sensação de presteza, de dedicar o tempo um ao outro, sempre foi o que me atraiu a conhecer gente nova.

É como ganhar um pouco do tempo da pessoa e tomar ele pra si.

E depois que você o tem, ele não vai embora. E eu sempre fui bom em manter esse tempo comigo pelo tempo que for. Manter as lembranças vivas, sem precisar tocar muito nelas. Em momentos aleatórios do dia elas surgem, eu revivo as emoções de conversas, parcerias, anos de amizade em poucos segundos, e isso reafirma que o que vivemos foi verdadeiro.

Mas o próximo passo, o entrar em contato, o "lembrei de ti enquanto eu lavava a louça", ele é cruel. É um exercício de prostituição da lembrança. É dar uma serventia, o fardo da manutenção do convívio, a algo que não deveria precisar prestar contas.

E pra manter essa pureza da memória, eu fico receoso de entrar em contato.

Tenho amigos que encontro com intervalo de anos. A antiga amizade é restabelecida de forma imediata. Conversamos: um sabe, na visão do outro, quais detalhes do seu cotidiano vão ser mais apreciados. O atraso entre as duas vidas é posto em dia, de forma franca, com alguns pequenos pesares ("tu terias gostado de conhecer tal pessoa", "pensei em te convidar naquela vez, mas tu estavas longe") que são desculpados por ambos, devido à logística.

Mas ir me alimentando dos seus dia a dias de forma constante, acompanhando de longe, não é substituto pra convivência direta.

Existem exceções, como no caso da família, onde a preocupação é mais urgente, será que estão bem, será que estão se alimentando, será que precisam de ajuda? mas não no caso da amizade.

A amizade precisa ser direcionada. Eu quero saber da tua vida, mas quero que ela me seja contada por ti. Não quero ser exposto ao que tu vive com os outros, pela ótica de quem está próximo, pelos olhos de quem eu não conheço, precisando interpretar sentimentos dos quais eu não participo.

E por isso é difícil manter contato.

É difícil perguntar "como vão as coisas? e o trampo?" quando realmente se tem interesse em alguém, sem ter tempo pra assimilar o que é dito. Quando a gente conhece alguém, a gente sabe quando é melhor sentir saudade sozinho.

#life #português